sexta-feira, 5 de maio de 2017

"Não entres à queima!!"


Se nos focarmos no feedback que o treinador envia para os seus jogadores no futebol de formação durante os jogos, conseguimos criar um top de frases mais ditas e retirar muitas pérolas.
O "Não entres à queima!" é, provavelmente, a que consegue ficar em 1º lugar. Fim-de-semana após fim-de-semana, jogo após jogo, lá está o treinador a dizer ao seu atleta: "Não entres à queima, pá!" e, muitas das vezes, lá fica o miúdo a olhar para ele e a tentar decifrar o que quer dizer com aquilo. 

Já lhe ensinaste, pelo menos, o contrário da frase que dizes? Saberá ele a posição base da contenção? Saberá ele em que contextos deve/pode tentar o desarme ou fazer contenção?

Pegando nesta frase devemos reter duas coisas:
1º Se o teu atleta aborda os lances dessa forma ou é porque nunca lhe ensinaste o contrário dessa frase - contenção - ou então no processo de treino não está a ter os estímulos corretos para conseguir mudar o chip e melhorar esse aspeto do jogo.

2º Experimenta utilizar o feedback positivo e diz-lhe o que ele DEVE fazer em vez do que ele NÃO DEVE fazer: "Na próxima vez utiliza a contenção!".  Isto porque muitas das vezes dizes para ele não fazer certo tipo de coisas e ele, se não pode fazer aquilo, fica sem saber o que deve/poderia fazer nos diferentes contextos.

Portanto, da próxima vez que disseres ao teu atleta para não abordar um lance daquela forma, lembra-te que o principal responsável por isso acontecer és tu.

PS. Na próxima semana falaremos do "Epa, não inventes!".

terça-feira, 2 de maio de 2017

Zizou e a liberdade


Este Real e Zizou são caso de estudo. O Real Madrid não é a equipa mais organizada no momento defensivo, não é a equipa com o melhor/mais vistoso futebol, consegue ter, muitas vezes, zero jogadores dentro do bloco adversário e mesmo assim vai somando vitórias e conquistando troféus. É verdade que tem dos melhores executantes do mundo mas por vezes isso por si só não chega e é aqui que entra Zinedine Zidade.
Zizou foi um dos melhores de sempre a jogar este jogo e pelo que parece foi inteligente o suficiente para perceber como lidar com um grupo de jogadores tão talentoso. Provavelmente é o treinador que gostaria ele próprio de ter apanhado como jogador. Com jogadores deste nível, Zinedine percebeu o quão importante é a liberdade decisional no momento ofensivo e dá aos seus atletas toda essa liberdade. 

Vê-se no jogo do Real a alegria dessa liberdade e os jogadores desfrutam do momento. Recriam-se entre eles, procuram solucionar problemas em conjunto ou até mesmo na qualidade individual que destrói qualquer organização defensiva, consoante o contexto.

Este lance de Marcelo é prova disso. 



Isco e a sua magia tem sido quem mais beneficia com este tipo de jogar. Que classe enorme.



Ser treinador é muito mais do que saber apenas sobre táticas e momentos de jogo. Ser treinador é saber adaptar-se ao que tem, é conduzir um grupo e criar o ambiente favorável para o desfrutar de um determinado jogar. 










terça-feira, 4 de abril de 2017

Cobertura em movimentos de rotura do adversário


No passado fim-de-semana, o Chelsea perdeu 3 pontos na sua campanha rumo ao título de campeão inglês.
O golo que viria a consumar a derrota inicia numa situação de 1x1 em que tendo em conta o espaço nas suas costas e o perigo que seria tentar o desarme, David Luiz (DL) faz contenção e recua com Bentenke com o intuito de retardar a decisão do portador da bola e esperar ajuda dos colegas. Essa ajuda acaba por chegar através de Cahill que se deixa arrastar pelo movimento de rotura de Zaha em vez de ficar numa linha de cobertura a DL. Se tivesse optado pela segunda opção permitia eliminar o adversário da jogada (fora-de-jogo) e protegia o corredor central.


Num lance idêntico entre o Vitória e o SL Benfica (que já tinha sido referenciado aqui) podemos ver a mestria com que Luisão consegue eliminar o adversário que ia em rotura, proteger o corredor central e tornar mais complicada a decisão de Hernâni.



É apenas um pormenor. Mas no futebol de alto rendimento são estes pormenores que podem ditar o vencedor de um jogo.

quarta-feira, 29 de março de 2017

Influência do contexto de crescimento no desenvolvimento dos jovens



Muitos são os meninos que encontramos nos escalões de formação que almejam chegar a profissionais, conquistar a Champions e o mundo com o seu futebol mas poucos são os que lá conseguem chegar.
Existem vários fatores que condicionam a possibilidade dos jovens conseguirem atingir todo o seu eventual potencial. Desde logo a região onde nascem, o contexto familiar, as vivências de outras práticas desportivas, os treinadores que encontram ao longo da sua formação, a qualidade de processo de treino, o nível competitivo onde jogam/treinam, características físicas e psicológicas individuais, etc.

Há uns dias, via a entrevista de Mário Jardel ao Porto Canal e, a certa altura o entrevistador introduziu na conversa o facto de Jardel ter praticado Voleibol em jovem. Ele não desenvolveu bem o tema, no entanto, esta prática ajudou-o e muito a tornar-se o jogador que foi. Para quem não sabe, Mário Jardel foi um dos grandes goleadores que passou pelo futebol português e a sua maior arma era o jogo aéreo, sendo um jogador letal de cabeça.

Para além dos seus 1,88m, o treino no voleibol - muito à base de saltos (pliometria) - ajudou-o a desenvolver uma capacidade de impulsão grande (cerca de 70cm segundo a entrevista), o que lhe dava uma enorme vantagem.
A prática desta modalidade também o ajudou na capacidade de ler as trajetórias da bola para que pudesse estar sempre o local certo nos cruzamentos dos colegas.
Outro ponto importante mencionado na entrevista foi o facto de Jardel cabecear de olhos abertos e assim poder decidir até ao último contacto com a bola onde a colocar consoante a posição do guarda-redes, algo muito próximo do remate no voleibol onde ele tinha de ter noção do espaço onde colocar a bola consoante os posicionamentos dos adversários até ao último momento.

Neste caso, o contexto que adquiriu na prática de outra modalidade ajudaram-no a desenvolver características ideais para um jogador de área. O facto de naquele tempo o futebol viver muito do "ir à linha e cruza" fazia com que ele estivesse como peixe na água. 

São as diferentes vivências que influenciam as características dos jovens jogadores e que os permite, ou não, atingir todo o seu potencial. No caso do Mário Jardel tudo se alinhou para que ele pudesse ter o sucesso que alcançou, se em vez do voleibol ele tivesse ido para o andebol as características desenvolvidas teriam sido completamente diferentes e teríamos um Jardel diferente.

quinta-feira, 23 de março de 2017

Tomada decisão - Superioridade / Igualdade numérica

aqui, há pouco mais de um ano, tínhamos abordado este tipo de situações que, não sendo muito recorrente, é importante que sejam aproveitadas com a maior taxa de sucesso possível por quem ataca.

No passado fim-de-semana, em dois jogos diferentes, tivemos exemplos de como não se deve abordar este tipo de ações.

Pegando no exemplo vindo do Boro vs Man Utd.  


Nesta situação, em claro 2x2, e nem em remate a jogada acaba. O porquê deste fim pode ser visto de duas formas:
1 - Rashford faz a desmarcação de rotura demasiado cedo, devia esperar a aproximação de Lingard com a linha defensiva e depois, consoante o contexto, podia servir de apoio para tabelar ou então procurar o movimento de rotura para arrastar cobertura e libertar espaço central.
2 - Contudo, Lingard tenta o passe que tinha poucas condições de ter o sucesso esperado. A movimentação de Rashford fez com que o obrigasse a decidir mais rápido sob pena de passar de um 2x2 para 2x1.


No segundo exemplo, o encantador AS Monaco de Leonardo Jardim, dispôs de uma situação de 4x1! Aqui ainda acabou em remate mas já em condições de menos sucesso.


Fabinho galgou metros (e bem!) tendo em conta que em nenhum momento conseguia fazer o passe que eliminasse o último adversário, contudo e mais uma vez, o timing de soltar a bola não foi o mais acertado.

O sugerido é que fixasse o defesa e soltasse no colega em potencial 1x0+Gr, e podia fazê-lo tanto para a esquerda como para a direita.  Ao passar no momento que o fez permitiu com que o defesa ainda condicionasse o remate de Lemar.
No meu ponto de vista esta foi a pior decisão que Fabinho podia ter até porque se queria soltar a bola naquele momento, o mais indicado era colocar no jogador que tem à sua direita tendo em conta os apoios virados do adversário e, provavelmente mesmo sem o fixar, colocaria o colega vs Gr.